Caso Rafael: ré depõe, nega crime e acusa ex-companheiro

Lenon de Paula

Caso Rafael: ré depõe, nega crime e acusa ex-companheiro

Juliano Verardi

Fotos: Juliano Verardi (Dicom/TJRS)

Alexandra Salete Dougokenski, acusada de matar o filho Rafael Winques, em maio de 2020, foi interrogada na manhã desta quarta-feira (18), no Tribunal do Júri da Comarca de Planalto. Ela respondeu somente as perguntas feitas pela juíza Marilene Parizotto Campagna, que preside o júri, e pela banca de defesa.

A ré negou a autoria do crime e sustentou que Rafael foi assassinado pelo pai, Rodrigo Winques, numa tentativa de levar o menino para morar com ele. Ela também acusou Rodrigo de ter tramado a morte dela no presídio. Conforme o Ministério Público (MPRS), Alexandra Dougokenski apresentou cinco versões para o assassinato.

A ré disse que assumiu inicialmente a autoria dos fatos para acalmar e dar uma resposta à família, e afirmou ter sido pressionada pela polícia para dizer que matou o filho. Chorando, ela lamentou a morte de Rafael.

O interrogatório foi finalizado no início da tarde desta quarta-feira (18). Na sequência teve início a fase de debates. Os promotores do MPRS e o assistente de acusação, Daniel Tonetto, tiveram 1h30min para apresentar aos jurados a sua tese acusatória. Por volta das 16h50min os advogados de Alexandra iniciaram a apresentação da tese de defesa. Para a réplica e a tréplica, quando cada parte retorna para reforçar os seus argumentos, será disponibilizado 1 hora para cada. Depois disso, os sete jurados se reunirão para decidir se a ré é culpada ou inocente.

Morte de Rafael

A Juíza pediu que Alexandra fizesse um relato livre do que teria acontecido na noite de 14 de maio de 20. A ré iniciou seu relato contando que o dia teria sido normal.

– Do meu quarto, tinha uma ampla janela de vidro, vi uma luz de um veículo, que parou em frente à minha casa. Em seguida, escutei um barulho na porta. Saí do quarto para ver quem estava aparecendo. Liguei a luz de fora e vi que era o Rodrigo. Ele perguntou pelo Mateus (nome do meio de Rafael). Eu disse que não era hora dele ver o Rafael, mas ele insistiu – declarou a ré.

De acordo com Alexandra, Rafael saiu do quarto e Rodrigo pegou o menino no colo e disse que ia levá-lo. 

– Eu disse que não, que o meu filho ele não ia levar! A todo o momento, a ameaça maior foi contra o Anderson. Quando ele se afastou de mim, o Rafael apontou o dedo pra eu olhar pro lado. Nesse instante avistei outra pessoa –  prosseguiu ela.

De acordo com o relato, um homem participou da ação. Alexandra mencionou que este homem estaria usando máscara e a teria segurado enquanto Rodrigo tentava amarrar os braços de Rafael.

– Acho que meu filho tava sentindo que ia morrer ali. Meu filho começou a gritar e se debater: “para, pai. não, pai”. Foi o único momento que eu ouvi ele chamar ele de pai. Foi coisa de instantes. Meu filho começou a se debater muito. E logo em seguida ele parou. Entrei em desespero. Até hoje me pergunto ‘por que ele não me matou no lugar do meu filho’? – declarou a ré.

Ocultação de cadáver

Alexandra disse que foi obrigada pelos dois homens a acompanhá-los até o terreno vizinho, onde colocaram Rafael na caixa, e também afirmou que Rodrigo teria ameaçado matar toda a família da ré caso ela contasse. Alexandra disse que voltou para casa e ficou sem rumo, até o dia amanhecer:

– Depois que o dia amanheceu, meu filho Anderson acordou e a única coisa que veio na minha cabeça foi dizer que ele (Rafael) tinha sumido.

Falsidade ideológica

Com a notícia do desaparecimento de Rafael, a família começou a procurá-lo e decidiram por comunicar as autoridades. “Todo mundo achou por melhor ir até a Delegacia e registrar a ocorrência”, explicou Alexandra, que responde também pelo crime de falsidade ideológica, uma vez que teria denunciado o sumiço do filho já sabendo o que havia acontecido.

Fraude processual

Alexandra teria alterado um calendário usado por Rafael para induzir a Polícia a erro. Havia uma marcação no 14/05/20, data em que teria ocorrido o crime, e isso poderia apontar que o menino indicaria já saber que, nesta data, aconteceria algo importante.

– A data do dia 14 estava circulada. Pra mim, foi um choque. Parecia que o Rafael já sabia da data. Não foi uma decisão minha, mas de todo mundo ali, encaminhar para a Polícia aquele documento – justificou a ré.

Autoria

A juíza perguntou por que Alexandra assumiu a autoria do crime e ela respondeu que foi para dar uma resposta à família, que estava desesperada:

– Meu filho (Anderson) estava definhando, não dormia, não comia. Eu via na minha mãe o desespero. O Beto (irmão) louco atrás do meu filho. Pra acabar com todo o sofrimento deles, quando eu estive na Delegacia, acabei falando isso.

Alexandra disse que sofreu constrangimento dos delegados que a interrogaram. Foi pressionada por eles para mudar o seu depoimento, senão Anderson iria “para a Febem” ou seria morto. A ré também conta que não foi acompanhada por nenhuma policial feminina, que ficou 10 dias sem se alimentar, e que os policiais queriam que ela desconstituísse o defensor, Jean Severo.

Diazepam

O medicamento (Diazepam), sedativo de uso controlado, encontrado em Rafael teria sido ministrado por ela dois dias antes do ocorrido. “Porque ele reclamou de não conseguir dormir”, justificou. Alexandra disse que, em razão do isolamento social (já era pandemia), ministrou um medicamento do irmão dela para o menino. Ela buscou a medicação na casa da mãe, pegou dois comprimidos.

Rodrigo, o pai de Rafael

Alexandra e Rodrigo mantiveram um relacionamento por quase 11 anos, que ela definiu como abusivo. Conforme Alexandra, ela não podia sequer tomar banho se ele não estivesse presente.

– Eu apanhava pra tudo. Foi muito sofrido. Ele já chegou a me deixar até 3 anos e meio sem notícias da minha mãe. Eu sofri muito nas mãos desse cara – relatou.

Ela também disse que sofreu violência sexual, e que ela e o filho mais velho eram forçados a fazer trabalho pesado na lavoura. A família morou em diversos municípios, mais distantes e sem acesso. 

Alexandra afirmou que pensou em se separar, mas que sofria ameaças, especialmente em relação à família dela. A defesa mostrou fotos de um homem que seria Rodrigo armado. A ré afirmou que isso era comum, que ele andava armado e que inclusive já teve uma arma apontada para a cabeça dela. Ela também contou que Rodrigo em certa ocasião teria atirado ao lado do seu ouvido, e que por conta disso teria ficado surda por cerca de três meses,

Já separada, os últimos 3 anos foram os mais felizes da vida de Alexandra, afirmou ela. Ela se comunicava com Rodrigo através do telefone celular de Rafael, mas que se falavam pouco. A última visita do pai teria sido na Páscoa. Alexandra falou que ele nunca avisava quando iria ver o menino.

–  Bandido assassino e infeliz. Ele não tem o direito de abrir a boca e dizer que é pai do meu filho – afirmou Alexandra, chorando. A ré acusou o ex-companheiro de ter tramado a morte dela no presídio.

Frieza

Testemunhas que estiveram com Alexandra quando Rafael estava desaparecido relataram que ela manteve um comportamento frio. Sobre isso, a ré pediu para se retratar:

– O que as pessoas retratam de mim como frieza, eu posso dizer para a Senhora, no lugar da frieza tem um coração destruído, calejado. Eu não aguento mais sofrer. Metade de mim pede para morrer, para ir com o meu outro filho. Mas a outra metade grita porque eu tenho outro filho que precisa de mim. Eu queria me retratar e agradecer a todas as pessoas que estiveram do nosso lado.

Aos jurados, a ré disse ter culpa, mas reiterou que o crime foi cometido pelo ex-companheiro. 

– Eu peço, pelo meu filho, pra ele descansar em paz, que este homem que tirou a vida dele, pague pelo que ele fez. Porque eu não matei o meu filho – afirmou Alexandra.

*Com informações do TJ/RS.

Carregando matéria

Conteúdo exclusivo!

Somente assinantes podem visualizar este conteúdo

clique aqui para verificar os planos disponíveis

Já sou assinante

clique aqui para efetuar o login

A cada três dias uma pessoa foi estuprada em Santa Maria em 2022 Anterior

A cada três dias uma pessoa foi estuprada em Santa Maria em 2022

Nos primeiros 30 dias da Operação RS Verão Total, número de resgates e salvamentos apresenta aumento de 53% Próximo

Nos primeiros 30 dias da Operação RS Verão Total, número de resgates e salvamentos apresenta aumento de 53%

Geral